20 de agosto de 2008

Comentário olímpico

É normal ver essas transmissões esportivas em que um atleta ou equipe brasileira tem chances reais de título e ficar impressionado com o investimento emocional dedicado ao resultado da competição por parte de narradores e espectadores. Não é apenas uma vitória pela qual se torce, é algo muito mais visceral: uma oportunidade de “lavar a alma”, chorar, abraçar, se enrolar na bandeira, recuperar a auto-estima, gritar, sair buzinando, se “orgulhar de ser brasileiro” naquele misto de complexo de inferioridade/superioridade descrito pelo Piza, acreditar que o futuro vai ser melhor, sambar, deixar de criticar o governo etc. etc. Claro que passar por esse processo de catarse toda Olimpíada, Copa do Mundo, corrida de F1 na chuva, torneio de vôlei de praia ou qualquer outro esporte em que de repente surge um brasileiro competitivo não deve ser saudável, mas não adianta criticar os sintomas desse desequilíbrio emocional. O que me preocupa é o que acontece quando o pessoal tem que narrar/assistir um jogo, como por exemplo, a semifinal do vôlei de praia masculino realizada ontem, em que dos dois lados da quadra foram ocupados por duplas que falam português e cantam o hino nacional. Será que eles ficam divididos, travados pelo paradoxo de que uma vitória brasileira implicará uma derrota brasileira? “Pelo” Brasil, serão capazes de torcer “contra” o Brasil? Conseguirão conciliar “em seus corações” a euforia dos vencedores com o “choro” dos perdedores? Ou, na medida em que o valor da nação não está em jogo, a partida simplesmente perde o apelo? Se tiverem que escolher uma dupla (afinal, não assistir o vôlei de praia deve ser impensável...), escolherão friamente (irônico) a com melhores chances de arrasar os estrangeiros na final, ou escolherão a dupla mais humilde/carismática/fotogênica/que acabou de ser pai?

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